terça-feira, 8 de abril de 2008

Rampa da Igreja de Póvoa e Meadas


Noticia do Jornal Fonte Nova

A já conhecida e muito badalada rampa instalada na escadaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça, em Póvoa e Meadas, continua a dar que falar e, neste momento, ganhou outra dimensão. Confirmado está que os arquitectos Manuel Bagulho e João Reis Álvaro, co-autores do projecto de construção da Igreja, entregaram à Justiça a questão, na sequência da recusa formal, por parte da Câmara Municipal de Castelo de Vide, em retirar aquele acesso a deficientes motores e idosos.

A recusa formal, por parte da Câmara Municipal de Castelo de Vide, em retirar a rampa de acesso à Igreja de Nossa Senhora da Graça, conforme os dois co-autores do projecto da Igreja lhe haviam solicitado por carta, em finais de Fevereiro último, fez com que os arquitectos entregassem à Justiça a questão. Contactado pelo nosso jornal, o advogado dos arquitectos, José Luís Bagulho, explica que "esta questão está prestes a avançar para Tribunal" e que os seus constituintes "argumentam a defesa do seu direito de autoria do projecto da Igreja e a obra ilegal que foi construída pela Câmara de Castelo de Vide". José Luís Bagulho lembra ainda que, na solicitação que fez por carta, obteve, algum tempo depois, uma resposta do advogado avençado da autarquia, Canedo Berenguel, "muito linear, a dizer que isso não fazia qualquer sentido e que, na sede própria, poderia responder". Nesse pedido, António Ribeiro, presidente da Câmara de Castelo de Vide, "foi alertado que a obra da rampa de acesso à Igreja já estava concluída e estava a ferir os direitos de autoria dos projectistas", conta o advogado, salientando que, perante estes factos, "declarei que estaria a violar os direitos de autoria dos meus constituintes". Neste sentido, duas propostas foram apresentadas: "ou António Ribeiro se propunha resolver a situação rapidamente de uma forma célere ou, caso contrário, teríamos de recorrer à via judicial", sendo que foi esta última que acabou por ocorrer. José Luís Bagulho frisa também que nessa sua solicitação "foi logo requerida à Câmara que fossem indicados e apresentados, como é seu dever fazê-lo, todos os elementos necessários para apurar quem é o responsável sobre esta matéria", designadamente os autores dos projectos de arquitectura da rampa, quem executou a obra, com que dinheiros é que foi financiado (se por parte do erário público ou por parte de terceiros), entre outros pontos. "Através do advogado do presidente da Câmara foi-me respondido que entendiam que não tinham nada a ver com isto e que, em sede própria, responderiam", lembra o advogado dos arquitectos Manuel Bagulho e João Reis Álvaro. Em consequência disso, "a Câmara de Castelo de Vide e o seu presidente irão ser intimados judicialmente para prestar os elementos informativos a que está obrigada a fazê-lo dentro dos termos da lei e, para além disso, há-de ter de responder judicialmente por uma acção indemnizatória ou condenatória que se vai intentar", acrescenta.

José Luís Bagulho faz questão de sublinhar que o interesse principal dos seus constituintes não é tanto o valor indemnizatório a reclamar, mas sim o ressarcimento dos prejuízos que daqui resultaram, sendo que "esses prejuízos são sempre de difícil cálculo em termos pecuniários". Segundo revelou, "o mais importante para os interesses dos meus clientes é a reposição da situação anterior, por se considerar aquilo um mamarracho do ponto de vista estético que fere os seus direitos". Perante a resposta que foi dada pelo mandatário do presidente da Câmara, "a situação partiu agora para uma resolução litigiosa", recorda José Luís Bagulho, frisando que, da parte dos seus clientes, "fez-se tudo que estava ao alcance para resolver a situação de uma forma amigável". Contudo, "e perante a ausência de respostas, de iniciativas e de bom entendimento partiu-se para uma situação completamente inversa", conclui o advogado.

Perante este novo acontecimento relacionado com a rampa de Póvoa e Meadas, o nosso jornal entrou em contacto com o presidente António Ribeiro que preferiu não prestar nenhuma declaração.

"O meu objectivo inicial era resolver tudo a bem", afirma Manuel Bagulho

Contando actualmente com 84 anos de idade, o arquitecto Manuel Tierno Bagulho, lamenta que esta situação tivesse agora que avançar para a Justiça para que possa ficar, de uma vez por todas, resolvida. Inicialmente, desconhecia por completo a obra de acrescento de uma rampa na Igreja de Póvoa e Meadas. "Estranhei muito que ninguém me tivesse contactado a não ser duas pessoas muito simpáticas, uma das quais o director do Jornal Fonte Nova que lhe enviou fotografias "daquele mamarracho incrível", conta o arquitecto. "Foi muito triste para mim ver logo aquilo lá (na Igreja da Póvoa). Acabei por escrever uma carta à Câmara de Castelo de Vide a dizer que tinha recebido umas fotografias daquilo e que estava um bocado incomodado", lembra o arquitecto, avançando que o seu objectivo inicial era resolver "tudo a bem", no entanto, "e como estive muito tempo à espera", decidiu agora entregar o caso ao Tribunal, uma vez que defende que "não se pode mexer numa coisa que tem um autor sem lhe dizer qualquer coisa".

Manuel Bagulho ainda se deslocou a Castelo de Vide onde reuniu com o presidente "que me pediu desculpa porque não sabia que havia aquela indignação do autor do projecto. Pedi-lhe então para resolvermos o assunto a bem, mas afinal não se mudou nada e o presidente acabou por dizer que não retirava aquela rampa". Entregando já o assunto a um advogado, o arquitecto tem apenas um desejo: "peço para retirarem aquilo da escadaria da Igreja". Com a idade avançada com que conta, Manuel Tierno Bagulho confessa que "é evidente que me chateia ter de ir a Tribunal com esta situação que se podia resolver a bem, mas, se tem de ser, paciência".
Recorde-se que, a 10 de Janeiro, Manuel Bagulho e o seu colega José Reis Álvaro, reuniram no Salão Paroquial de Póvoa e Meadas e apresentaram aos presentes um ante-projecto de uma rampa de acesso "pelo interior" da Igreja que terá agradado à maioria dos povoenses que participaram na reunião. "Este projecto até já se podia fazer, porque não precisa da autorização da Câmara", declara Manuel Bagulho.

Igreja conta já com 40 anos

Foram muitas as obras que Manuel Bagulho construiu no Distrito de Portalegre. Uma delas foi a Igreja de Nossa Senhora da Graça, de Póvoa e Meadas, a qual foi inaugurada em 1968. Tudo aconteceu porque os filhos do conhecido pintor Jaime Martins Barata indicaram o arquitecto Manuel Tierno Bagulho para fazer o projecto.

Recordando que Henriqueta Fragoso foi quem pagou a obra, o arquitecto conta que o projecto da Igreja foi "fácil e difícil", além de que "nunca quis fazer nada sem falar primeiro com as pessoas para saber a sua opinião, em conjunto com o padre Isidro de Oliveira", pároco na altura na Póvoa. Nessa altura, "tive muitas reuniões com as gentes de Póvoa e Meadas para lhes explicar o que íamos fazer", recorda Manuel Bagulho. Apesar de não se recordar do tempo que levou a fazer o projecto, tem ainda na mente que "foram alguns meses", além de que "também era complicado", porque "ali confluem cinco ruas". No entanto, "fez-se uma solução que penso que resultou bem e a Igreja acabou por ser construída", regozija o arquitecto.

Texto e Fotos de Catarina Lopes (Jornal Fonte Nova)

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